As tensões entre Irã e Israel atingiram níveis alarmantes nos últimos meses, reacendendo preocupações de uma escalada militar que pode ultrapassar as fronteiras do Oriente Médio e envolver potências globais. A troca de ataques diretos, cada vez mais frequente desde o início de 2024, está alimentando o temor de uma guerra regional de grandes proporções, com potencial para desestabilizar a segurança internacional.
O estopim da escalada
O ponto de ruptura mais recente ocorreu em abril de 2024, quando Israel bombardeou o consulado iraniano em Damasco, na Síria, matando sete membros da Guarda Revolucionária Iraniana, incluindo dois generais. O ataque foi interpretado por Teerã como uma violação direta da soberania diplomática e motivou, dias depois, a primeira ofensiva direta do Irã ao território israelense com mais de 300 drones e mísseis. Israel respondeu com ataques coordenados a instalações militares iranianas nas regiões de Isfahan e Shiraz.
Desde então, o ciclo de retaliações intensificou-se. O Irã ativou milícias aliadas como o Hezbollah no Líbano e grupos xiitas no Iraque e no Iêmen, enquanto Israel manteve ofensivas aéreas preventivas e operações secretas no território iraniano e sírio.
O envolvimento das grandes potências
Embora os Estados Unidos e a União Europeia tenham apelado por moderação, ambos os lados parecem firmes em suas posições. Washington reforçou sua presença militar no Golfo Pérsico e no Mediterrâneo Oriental, incluindo dois porta-aviões e sistemas de defesa aérea. Por outro lado, a Rússia e a China, tradicionais aliados estratégicos do Irã, vêm criticando abertamente as ações israelenses, especialmente após as sanções econômicas impostas ao Irã serem reforçadas pelos EUA e aliados da OTAN.
Em maio de 2025, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para um "risco concreto de conflito regional de alta intensidade", enquanto o secretário-geral António Guterres pediu um cessar-fogo imediato e negociações multilaterais. No entanto, os apelos internacionais até agora tiveram pouco efeito prático.
Risco de guerra mundial é real?
Analistas militares e diplomatas têm debatido a possibilidade de um novo conflito de escala global. Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), com sede em Londres, "o risco de uma guerra mundial ainda é considerado baixo, mas não desprezível". O que mais preocupa é o efeito dominó: o envolvimento de milícias apoiadas pelo Irã pode obrigar Israel a abrir múltiplas frentes, enquanto um erro de cálculo entre EUA, China e Rússia pode transformar a disputa em algo muito maior.
Além disso, o estreitamento das alianças militares e o aumento dos gastos com armamentos elevam a tensão. Em 2024, os gastos militares globais atingiram um recorde de US$ 2,4 trilhões, segundo o SIPRI (Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo), com Irã e Israel entre os países que mais aumentaram seus orçamentos de defesa.
Impactos geopolíticos e humanitários
A guerra em Gaza, em curso desde outubro de 2023, já causou mais de 40 mil mortes, segundo números atualizados da ONU. A escalada entre Irã e Israel ameaça ampliar a tragédia humanitária, atingindo países como Líbano, Síria, Iêmen e até o Afeganistão, onde milícias pró-Irã também atuam. Há também impactos diretos nos mercados globais: o preço do barril de petróleo ultrapassou US$ 120 em maio de 2025, reacendendo a inflação global e pressionando economias em desenvolvimento.
Conclusão
A possibilidade de uma guerra mundial a partir do conflito Irã-Israel ainda não é uma certeza, mas os ingredientes para uma escalada sem precedentes estão sobre a mesa: interesses geopolíticos cruzados, rivalidades religiosas e militares, presença de grandes potências e um Oriente Médio à beira do colapso. O mundo assiste com preocupação, ciente de que um erro estratégico pode desencadear consequências imprevisíveis.
